quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Um pouco de psicologia...

"Vamos tentar avançar um pouco na direção da hipótese que estou defendendo: a de que o desejo sexual está, em nossa sociedade, fortemente vinculado à agressividade. Desta vez, tratarei apenas dos homens e de dois exemplos extremos. O primeiro deles caracteriza o modo de ser dos machões conquistadores e sedutores. Estes homens, que talvez correspondam a uma boa metade da população masculina, são ativos na abordagem das mulheres, insinuantes e muitas vezes inconvenientes. Acham que “não existem mulheres honestas, apenas mal-cantadas.” Quando se aproximam de alguma “gostosa”, emitem ruídos que são indicativos, ao mesmo tempo, de raiva e desejo. Imitam sons próprios das relações sexuais, aspiram forte o ar entre dentes semi-cerrados. Estando junto com outros homens, dirão, com aquela expressão facial de raiva e tesão e com os punhos cerrados, “olha aquela ‘goxtoosa’!” A insistência deles faz bem à vaidade de muitas mulheres, que acabam aceitando sua abordagem. O resto já é conhecido: falam tudo o que elas querem ouvir até conseguirem levá-las para a cama. Depois disso desaparecem, adoram quando elas correm atrás deles e, sempre que podem, as humilham e rejeitam ao máximo. Nada de muito romântico, a não ser algumas palavras mentirosas ditas para induzi-las ao ato sexual.
Não se satisfazem apenas com isso, de modo que é fundamental contar para os amigos que “eu comi a fulaninha.” Estes homens assim grosseiros costumam ser muito dedicados aos seus amigos. Adoram conversar com eles, passam horas em mesas de bar trocando idéias e conselhos, falando de negócios, futebol e, é claro, de mulheres – sempre com aquela postura de desdém e hostilidade, que não pode ter outra fonte que não a inveja. Que outra razão além da inveja levaria muitos deles a, no carnaval, se vestir como mulheres?
O exemplo oposto é o dos homossexuais masculinos. Estes se dão muito bem e são amigos das mulheres, o que é quase impossível para a maioria dos homens. Não as desejam e não as hostilizam. Muitos não têm nenhuma inveja delas, pois só um pequeno grupo de homossexuais gostaria de ser do sexo feminino – os travestis e aqueles excessivamente efeminados seriam o exemplo deste caso. Os homossexuais masculinos raramente tiveram, durante a infância, problemas com suas mães. Mais freqüentemente se indispuseram com pais violentos e que não compreendiam a maneira mais delicada deles se conduzirem. Muitos foram objeto de chacota por parte dos colegas “machinhos” exatamente por força da mesma forma sensível e pouco agressiva de se comportarem. Crescem e se tornam adolescentes com raiva dos homens que os humilharam. O que acontece? O desejo acompanha a raiva! As práticas sexuais entre os homossexuais são, como regra, promíscuas e nada românticas. Criaturas delicadas e requintadas na forma de viver o cotidiano se deliciam com os contextos eróticos mais grosseiros e sujos que se pode imaginar. Homens sofisticados, artistas ou intelectuais de grande erudição fazem sexo com outros homens em banheiros públicos!
Os machões, que tanto assediam as mulheres, as desejam e as odeiam. São amigos de verdade de outros homens, para os quais confidenciam inclusive suas fraquezas – o que é um importante sinal de desarmamento e confiança. Os homossexuais desejam e odeiam os homens. O relacionamento com eles é tenso e difícil fora do contexto erótico. Para todos os outros fins que não os sexuais parece que preferem a amizade e a companhia das mulheres. Esquisito, não? Manifestem-se, falem de si, das pessoas que vocês conhecem."

Flávio Gikovate

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